
Esteve de baixa por stress durante algum tempo, mas a verdade é que tinha realmente atingido o seu limite. Foi assim que se retirou do corpo policial, e abriu uma lojinha de esquina numa pequena aldeia.
A sua vida corria bem, mas internamente continuava muito stressado, pelo que acudiu a mim em busca de ajuda.
O que Murray tinha de particular era que falava a cem à hora. E de facto era muito divertido, contava imensas hstórias, e cada uma se colava à seguinte. Ele basicamente falava sem parar. Eu gostava de o ouvir, ele era de facto um bom contador de histórias.
Mas era difícil eu introduzir-me na conversa e portanto não conseguia sentir o pulso a mergulhar abaixo da superfície com ele, e criar algum tipo de terapia mais sólida.
Tal continuou durante algumas sessões, e de cada vez eu enfrentava o mesmo desafio. Contei-lhe o que experenciava, mas não causou qualquer diferença.
Mas houve algo que eu notei. Murray caminhava com um coxear particular. Parecia que andar era um pouco doloroso para ele.
E foi assim que no meio de uma das suas histórias, eu o interrompi. Disse, ´Noto uma polaridade interessante. Falas muito depressa, mas tens que andar devagar.´
Murray concordou, mas não pareceu ter grande significado para ele.
Perguntei-lhe ´E que tal se falasses tão devagar quanto andas?`
Isto era uma proposta nova, mas ainda assim não lhe fazia muito sentido. Propus-lhe então uma experiência - que andasse para trás e para a frente na sala, e que dissesse uma palavra por cada passo.
Claro que quando fez isto, foi obrigado a falar devagar. De repente compreendeu aquilo a que eu lhe estava a chamar a atenção - o seu corpo estava a tentar desacelerá-lo, mas ele não estava atento à dica. Quando falou devagar, pôde ser capaz de começar a a sentir - aquilo que tanto falatório estava justamente a evitar.
Uma vez que teve acesso aos seus sentimentos, o trabalho terapêutico pôde realmente começar...
Em Gestalt, prestamos atenção aos ´phenomena´ (fenómenos) - neste caso, a velocidade do seu discurso (ao invés do conteúdo), e o seu coxear. Ao não saltar para nenhuma conclusão com respeito ao seu significado, permitimos que novas ´Gestalts´ (configurações) possam emergir e interligar-se. Neste caso, uma polaridade profunda. Andamos em busca de polaridades, pois frequentemente indicam cisões na personalidade, que são formas de evitar a tomada de consciência. Quando estas cisões entram no campo da consciência, podemos trabalhar com elas, e de uma forma natural, a pessoa mover-se-é em direção a uma maior integração - apesar de poderem precisar de uma pequena ajuda. A experiência Gestalt nasce destas observações, e é uma forma de explorar a tomada de consciência destas cisões, em vez de apenas falar delas, ou ´saber´ acerca delas. O tipo de conhecimento em que estamos interessados é um saber integrado, baseado num sentir corporal.
Sem comentários:
Enviar um comentário