
Descreveu várias situações em que tinha perdido o respeito pelo seu pai devido a este estilo de comunicação, e à sua consequente decepção. Sentia-se de algum modo superior a ele, na medida em que ela expunha o seu estilo indirecto e manipulativo, e ele não podia negar os seus motivos ocultos.
Isto alertou-me para a dinâmica entre nós. Salientei que eu era um homem, provavelmente de uma idade próxima à do seu pai, e estava portanto interessado em como ela experenciava estar comigo. A experiência dela era positiva; chamei-lhe então a atenção para algumas das maneiras em que eu tinha uma comunicação indirecta. Depois de o fazer, ela disse que agora já não me tinha num pedestal, mas mais ao seu nível.
Tal foi um bom começo. Mas foi importante abordar directamente a própria dinâmica interpessoal. Contei-lhe então algumas das minhas respostas à forma como a tinha visto comunicar, não do ponto de vista da minha crítica face a ela, mas sim da minha auto-crítica em resposta o seu estilo de comunicar. Ela tinha feito muitas perguntas, eu apreciava a sua energia e interrogação e ao mesmo tempo, dava por mim um pouco frustrado pelo modo como ela ´estava em todo lado´.
Assim, ao dar-lhe a minha perspectiva sobre mim próprio, dei-lhe um modo de olhar para dentro de mim, para o meu estilo indirecto - normalmente não expresso, e provavelmente invisível para ela. Tal requereu uma vontade da minha parte de expôr o meu próprio ego. Disse-lhe ´com isto, estou a passar-te uma arma para as mãos´. Perguntei-lhe então como se sentia agora em relação a mim. Havia uma combinação de se sentir aliviada com a minha honestidade, bem como algum sentimento de superioridade.
Isto foi importante, pois aprofundou o contacto entre nós. Este tipo de autenticidade permite-nos chegar ao coração das dinâmicas relacionais, no aqui e agora.
À medida que conversávamos, notei que ela derivava do assunto, e no seu estilo altamente energético, passava a outros tópicos. Comentei-lhe que do meu lado me estava a sentir perdido, e ela salientou o modo como recebia esse feedback de várias pessoas.
Já tinhamos alcançado muito na sessão - não tinhamos resolvido nada, mas trouxéramos alguns aspectos profundos da experiência para a relação. Podia reparar que se seguisse a sua direcção, poderíamos facilmente derivar para outros tópicos... Experienciei isto como um movimento desenraizado, pois não se mantinha com uma figura clara.
Assim, fui fechando a sessão. É importante não deixar que muitos assuntos surjam numa sessão, de facto, é melhor escolher apenas um, mover-se através da Gestalt emergente, e depois fechá-lo, para permitir que a pessoa o possa digerir. É comum as pessoas quererem ´mais´ antes de terem realmente interiorizado o que foi abordado, e portanto é importante para mim como terapeuta ser contentor, estabelecer o limite, e deixá-las ficar com o que foi conseguido até então, em vez de seguir para o próximo tópico de interesse.
Tínhamos conseguido já material para muitas mais sessões, e isto constrói uma base para a continuação. Grande parte da terapia tem a ver com construir esta base, e é esta mesma base que de diversas formas fornece muito do valor derradeiro, para além dos assuntos e intervenções específicas.
Confrontado com a sua dificuldade em permanecer com uma figura clara, eu desloquei-me para o diálogo, em vez de continuar a tentar facilitá-la. Isso apenas levaria a uma ´contenda´ - eu a tentar focar-me nela, e ela a usar o seu estilo daquilo a que chamamos ´deflexão´em Gestalt. É uma forma de estabelecer contacto que dilui a intensidade do contacto. De modo a podermos trabalhar através de figuras de interesse em Gestalt, a tomada de consciência necessita estar presente e focada. As pessoas têm diversas formas de interromper esse fluxo de consciência - descrito como ciclo do contacto, ou ciclo de awareness (tomada de consciência) no original - não atigindo portanto a conclusão. Isto leva a assuntos pendentes e a uma falta de contacto satisfatório.
Mas oferecer ou apoiar um bom estilo de contacto não é suficiente. As pessoas fazem as suas interrupções habituais, e fazem-no geralmente sem tomarem consciência disso. Neste caso, trouxe alguma atenção para este processo de interrupção - algumas vezes isso é suficiente, outras é necessário fazer um trabalho lento e muito cauteloso, de outra forma as pessoas podem´resistir´ o que significa que se sentem inseguras.
É aí que a vertente a longo prazo é necessária, para criar uma base de segurança.
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