
Parecia angustiada com este assunto, e disse-me estar muito infeliz. As suas tentativas de conhecer homens simplesmente não estavam a resultar.
Quanto mais falámos deste tema, mais eu conseguia ver quão intensa era a sua infelicidade. Ela aparentava estar bastante desgraçada. Inquiri acerca disto. Descreveu-me um estado geral transtornado, mas associava-o a não encontrar um companheiro.
Uma pessoa pode ter uma figura de interesse evidente - o seu ´tema`. Mas esta não é a forma na qual trabalhamos sempre em Gestalt. Estamos sempre mais interessados no processo, no COMO, ao invés do O QUÊ. Neste caso, foi o seu tom de voz, o seu estado de ânimo, que eu segui. É importante escutar o tema, e igualmente importante não se deixar distrair por ele. O estado emocional vem sempre primeiro, depois o conteúdo.
Convidei-a então a fazer uma experiência. Pedi-lhe que olhasse para a sala em redor e me dissesse a sua cor preferida - verde. Era um quadro com uma árvore verde.
Pedi-lhe que olhasse para o quadro, pusesse a mão no seu ventre e inspirasse o prazer de olhar para aquela cor. Várias vezes começou a chorar, fechando os olhos. Mas numa voz forte pedi-lhe que se mantivesse presente, que olhasse, respirasse e deixasse entrar algum do prazer.
Na Gestalt prestamos atenção à experiência do ´agora`- forma parte do trabalho de enraizamento, bem como do caminho em direcção à vitalidade, que é, de algum modo, o objectivo da Gestalt.
De seguida pedi-lhe que escolhesse um objecto na sala. Escolheu uma vela verde.
Pedi-lhe que fizesse o mesmo exercício. Começou a retrair-se, e novamente lhe pedi que se mantivesse presente. Ela assim o fez, mas então disse uma frase ´os mortos-vivos´. Perguntei-lhe o que significava.
Explicou-me que se sentia culpada, que tinha feito um aborto e nunca o tinha superado.
Assim, isto tornou aparente o seu assunto inconcluído, com que precisamos lidar antes da pessoa se poder tornar verdadeiramente presente na sua própria vida.
Então eu criei um ritual para ela - acender a vela, ofereci-lhe uma frase longa para dizer à criança por nascer, reconhecer a frase e logo libertar-se; por fim apagar a vela.
Quando o fez, tornou-se mais estável.
Sugeri-lhe que fizesse este ritual todos os dias até a vela se consumir por completo.
Uma vez mais, pedi-lhe que olhasse para a vela verde, com uma mão no ventre, e inspirasse algum prazer. Desta vez foi mais capaz de o fazer.
Isto foi importante para a ajudar a manter-se presente, uma vez que quando as pessoas têm uma tendência para a depressão, podem afundar-se facilmente nela, afogando-se na familiaridade da sua desgraça.
Um dos antídotos é o prazer, e ser capaz de o assimilar. Tal pode fortalecer, de tal modo que a pessoa possa ´seguir com a sua vida`, qualquer que seja o seu conteúdo.
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