
Ela dirigia uma escola e tinha alguns problemas com um aluno. Eu empatizei, dadas as minhas próprias experiências, e isto estabeleceu um ponto de ligação. Sentado com ela, tive uma sensação de peso, e partilhei-a. Falou-me acerca de se sentir desmotivada, particularmente em relação ao trabalho - não queria ir trabalhar até o dia já ir avançado, e demonstrava uns quantos sinais de algum tipo de esgotamento.
Perguntei-lhe pela sua vida familiar. Era boa, tanto o filho como o marido a estimavam e nutriam. Contou-me a respeito de um jogo em que ela escondia coisas pela casa para eles encontrarem. Também queria pôr rodinhas em toda a mobília de modo a poder deslocá-la à vontade, para que de cada vez que eles voltassem a casa tudo estivesse num lugar diferente. Comentei que isto revelava um lado seu criativo e brincalhão.
Brittany falou-me de uns dias que tinha passado com os sogros; como eram idosos tudo o que faziam era comer, dormir e jogar às cartas. Passado algum tempo ela aborreceu-se e quis mudar as regras do jogo, para variar; fiz-lhe notar que isto era o seu lado criativo e brincalhão em acção. Mas os sogros opuseram-se, o que a aborreceu muito - e foi então que ficou com o estômago irritado.
Durante um bocado ficámos sentados em silêncio. Contou-me que quando era mais nova não falava muito, mas costumava escrever. Pedi-lhe que se imaginasse a escrever uma história... qual seria o título? Respondeu-me que se chamaria ´O Ovo`. Perguntei-lhe então sobre os primeiros parágrafos, e ela falou acerca de uma cria que emergia de um ovo.
Pedi-lhe que me dissesse que coisas novas estavam a emergir na sua vida. Falou-me acerca de querer mudar as coisas na sua escola e de como tinha ajudado um amigo a escrever um relatório que lhe serviu para arranjar emprego - tinha ficado contente.
Sugeri que parecia que a criatividade e o espírito lúdico poderiam ser algo que estava a emergir - ela concordou.
Perguntei-lhe como poderia trazer essas qualidades para a sua situação de trabalho. Ficou sem resposta. Convidei-a então para um jogo, em que eu faria sugestões acerca de mudar as coisas no seu trabalho de uma forma criativa, e ela faria as dela. Estivémos assim durante um bocado, e depois contou-me que já o tinha tentado uma vez, mas que tanto os professores como os alunos tinham sido muito críticos porque ela se havia desviado da lista de coisas que eram supostas ser feitas.
Isto era algo em que claramente necessitava apoio e eu chamei-lhe a atenção para esse facto - ela precisava de um aliado, um ´co-conspirador`. Disse-me que não era realmente possível, mas fiz-lhe notar que a consequência de suprimir a sua criatividade era a irritação no estômago que lhe tinha acontecido em casa dos sogros.
Convidei-a então a imaginar-se a escrever um relatório para a sua escola - que tipo de recomendações profissionais faria?
Pedi-lhe que inventasse um exercício criativo para o grupo cada dia. Mostrou-se reluctante, mas disse-me que iria levá-lo em consideração.
Num dado momento ela tinha reparado nas minhas meias coloridas, e feito a comparação com as suas próprias meias coloridas. Sugeri então que uma actividade para o grupo poderia ser um jogo de sedução com os pés por baixo da mesa. Foi muito divertido quando fiz esta sugestão, e para ela foi uma demonstração de como a criatividade poderia ser aplicada a uma situação de aprendizagem. Com isto criei também uma pista para ela utilizar, fazendo uso da minha própria posição para incorporar diversão e uma intervenção fora dos parâmetros normais.
Neste trabalho, a primeira figura foi a sensação de peso e irritação. A figura seguinte foi a criatividade. A abordagem Gestalt é uma forma de trazer mais vitalidade à vida das pessoas; isto é feito fenomenologicamente - de dentro para fora - a partir da sua realidade e usando os marcadores e a linguagem que nos fornecem. Também nos focamos no apoio - neste caso, ela não tinha o apoio que precisava para fazer emergir esta sua faceta no local de trabalho. Usando uma qualidade precoce dela - a escrita - pude entrar em contacto com o seu sonho e então dar apoio ao seu self emergente. Trabalhamos com o óbvio em Gestalt - a cria a sair do ovo é algo directo que não requer nenhuma interpretação em particular - o que é importante é a sua aplicação ao assunto específico que surge no momento. O apoio derradeiro que lhe pude fornecer foi uma abordagem do género ´dar autorização`, que demonstrei pegando em algo que ela tinha reparado - as meias - e usando a minha autoridade como um exemplo de como a criatividade pode ser usada numa sala de aula.
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