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sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Case #55 - O vazio criativo

Betina contou-me a respeito de ter medo que o marido morresse - havia um historial de mortes precoces na família dele, um cartomante tinha-lhe dito que ele poderia morrer, e ele ficava acordado até tarde todas as noites.
Enquanto conversámos, tornou-se claro que o tema era que ele a negligenciava - ficando fora de casa até horas tardias todas as noites, bebendo e jogando com os seus amigos; quando voltava para casa, mostrava-se barulhento e desconsiderado, acordando-a. Passava pouco tempo com a família, e tinha gasto poupanças familiares no jogo.
Isto tinha-se passado durante a maior parte do seu casamento, há já várias décadas. Nos sistemas familiares que têm um elemento abusivo, que se mantém por algum tempo, há um aspecto da dinâmica que é co-criado, geralmente relacionado com o contexto no Campo.
Actualmente, ela andava zangada, mas eles raramente falavam um com o outro.
Assinalei que juntamente com a dor que sentiria se ele morresse, provavelmente também se sentiria aliviada. Ela concordou. Em Gestalt estamos interessados em ambos os extremos de uma polaridade.
Perguntei-lhe o que desejava ela da minha parte - respondeu-me que queria alguma orientação em relação ao que fazer.
Também me revelou que o seu pai tinha tido um comportamente parecido - passando tempo fora de casa até noite tardia, a jogar. Essa era a indicação do campo.
Tornou-se claro para mim que esta era uma situação séria, arraigada e muito debilitante.
O seu marido tinha confidenciado com a sua cunhada, que depois criticara Betina.
Enquanto me contava acerca disto, notei que se beliscava. Convidei-a então a ´beliscar´  a sua cunhada, e pus uma almofada diante dela. Mostrou-se muito relutante, beliscando-se a si própria ainda com mais força. Fui um pouco intrometido - insisti que ela experimentasse na almofada - salientando que era ´apenas uma almofada´ e que não haveria repercussões. Foi difícil para ela, mas acabou por fazê-lo, enfiando os dedos na almofada. A isto chamamos ´retroflexão´ em Gestalt - fazer a si próprio o que se gostaria de fazer a outrem.
Convidei-a a usar palavras também. Foi então que me revelou que os seus irmãos também se intrometiam no assunto e a criticavam.
Nesse momento parei o que estávamos a fazer. Todo o processo revelou uma impotência arraigada, falta de apoio e um padrão intergeracional com as características de uma relação abusiva. Não era algo que pudesse ser resolvido comigo a dar indicações simples do género ´não faças isso´. Além de que a quantidade de apoio necessária para sair dessa situação parecia gigantesca, e irrealista de se tentar numa única sessão - é importante reconhecer as nossas limitações como terapeutas, e não tentar algo que dê falsas esperanças.
Aumentei então a sua tomada de consciência indo noutra direcção. Perguntei-lhe se achava que todos os homens eram egoístas, ao que me respondeu que não. Partilhei então com ela que eu sim achava que os homens eram um pouco egoístas. Respondeu-me - ´Bem, eu deixo que o sejam´. Desta forma, ela deu um passo em direção a assumir alguma responsabilidade, sem que eu a tivesse que ´confrontar´.
Olhei para ela, e disse-lhe que podia ver quão infeliz ela estava. Foi um momento de encontro. Eu não a queria salvar do local em que se encontrava ou solucionar o que quer que fosse - embora claro que queria uma vida diferente para ela.
Sentei-me com ela, nesse local. Dei nome àquilo que via - uma situação que era também familiar à experiência da sua mãe. Uma situação que se alastrava há décadas. Uma situação que parecia apenas ir de mal a pior. Uma situação em que se encontrava estagnada, apesar de ter algum conhecimento psicológico.
Destacar a natureza depressiva da situação foi uma forma de não a minimizar. Não comentei, julguei ou sugeri, apenas reconheci. Desta forma, eu podia vê-la, e sentar-me ao seu lado, olhando para a realidade de como as coisas são.
Em Gestalt chamamos a isto ´sentar-se com o vazio criativo´. Não parece criativo, mas pelo facto de nos sentarmos com ele, sem nos afundarmos ou fugirmos, algo diferente pode emergir.
Ela disse, ´Bom, nós deixámos de falar um com o outro, e isso é um pequeno alívio´. Eu entendi - e salientei que, de facto, o casamento tinha morrido. E posto isto, que se segue?
Perguntei-lhe qual a percentagem que ela achava que havia de alguma esperança de mudança. Estava à espera de um valor extremamente baixo. Se me tivesse dito zero, teria trabalhado com ela no sentido de como sair de lá.
Mas surpreendeu-me ao dizer 15%,o que indicava haver uma hipótese de as coisas puderem mudar.
Perguntei-lhe o que isso lhe permitia fazer - aqui estava a porta de entrada para a possibilidade de acção.
Disse que podia descobrir maneiras de ser mais feliz. Isto era algo bom - uma solução subjectiva para começar.
Quando lhe perguntei que outras coisas poderia fazer, disse-me que se podia dedicar mais aos filhos, mas eu salientei que isso era o que ela já fazia para lidar com o casamento.
Identificou outras formas de como ser mais feliz. Mas eu queria mais da parte dela - algumas acções objectivas que poderia tomar para mudar a relação.
Contou-me que o marido se queixava que ela já não preparava o pequeno-almoço. Assim sendo, ele ainda queria algum cuidado, e sentia saudades disso.
Perguntei-lhe então que ´quid pro quo´ ela lhe poderia pedir, caso lhe fizesse o pequeno-almoço. Respondeu-me,  ´tempo com a família´. Soou-me como um bom começo - não muito íntimo, mas um sinal de algo diferente. Pedi-lhe que quantificasse quanto queria e com que frequência. Sugeri-lhe então que ela se oferecesse para fazer pequeno-almoço esse número de vezes.
Salientei que se ela queria criar uma nova relação a partir das cinzas, isso levaria vários anos, e iria necessitar de muito apoio ao longo do processo.
Em Gestalt, ficamos satisfeitos com um pequeno passo - integrado - de cada vez.
Neste caso, algo emergira do vazio, e fora tudo obra dela, ao invés do seu convite inicial a que eu lhe dissesse o que fazer. A minha ´orientação´ foi antes de mais dirigir a sua atenção para o ´que existe´, e em seguida ajudá-la a enraizar-se na figura emergente daquilo que tinha de facto energia para fazer.

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